Essa gravata que usas
Essa gravata que usas, a condizer com o resto
Contrasta com esse ar carregado, sem transparecer
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Esse relógio que abusas, sinal de ostentação
Nem por isso te alegra o tempo que tens para viver
Ao consumismo imposto por eles
Já te rendes-te sem dares por isso
Não os pudeste vencer, não é façil
Fizeste-te sócio do capitalismo
E esse brinco que usavas, que nem sequer era de oiro
Vincava a tua irreverência, ficava-te a matar
E as certezas que tinhas, podias mudar o mundo
Hoje são para ti utopias, deixas-te de sonhar
Ao consumismo imposto por eles
Já te rendes-te sem dares por isso
Não os pudeste vencer, não é façil
Fizeste-te sócio do capitalismo
E o que foi feito dessa arvore
E o que foi feito desse livro
E o que foi feito desse filho
O que foi feito de ti
Só tu para me salvar o dia
Ladrão sem Sorte
Nesta terra sem pretensão
Eu tenho má reputação
Mal trapinho ou engravatado
Dizem que sou mal comportado
Porem eu não faço mal nem bem
Nesta minha vida de Zé Ninguém
Mas que vida mais triste tenho
Querendo viver fora do rebanho
De dedo em riste todos me acusam
Salvo os manetas que o não usam
Quando vejo um ladrão sem sorte
Fugir dum chúi que é bem mais forte
Meto o pé e com uma rasteira
Lá vai o chui pela ribanceira
Mas na Guarda nacional
Não acham isto natural
Todos correm atrás de mim
Menos os coxos, é natural
Cuidado que eles vêem aí
E não é para dar nada a ninguém
Cuidado põe-te fino
Abriga-te Avelino
Cuidado que eles vêem aí
Todos verão o meu funeral
Menos os cegos,é natural
Tributo a Luís Cilia/George Brassens
Junto ao Balcão
Presumo que haja algum mal entendido
Deve haver alguma confusão
Eu estou à tua espera à hora marcada por ti
Conforme foi combinado, junto ao balcão
Eu vou seguido a conversa com os meus botões
Por entre um trago de whisky, vou arranjando razões
Vou arranjando desculpas para o teu atraso
Vou descobrindo certezas para meu embaraço
São as tuas virtudes, são os teus defeitos, tão perfeitos
Aliados ao fraco tão forte que eu tenho por ti
E enquanto num canto do Bar
Há uma voz que começa a cantar
Em tons tristes de menor
Que atordoa o meu esperar
E a voz envelhecida em cascos de Carvalho
Diz-me que és causa perdida
Carta fora do baralho
Presumo que haja algum mal entendido
Deve haver alguma confusão
Eu estou à tua espera à hora marcada por ti
Conforme foi combinado, junto ao balcão
No Meu Quarto
Pudesse eu traduzir
O que me vai no coração
Poder fazê-lo, fosse tão fácil
Um simples gesto ou uma expressão
Tomara ser imune
Ser indiferente
Ao teu olhar perverso
E inocente
Guardava-me de ser
Alguém confuso e frágil
Algo inconstante, constantemente
Á noite no meu quarto
Onde a inspiração por vezes tem marés
É ver-me a escrever-te, com rascunhos até os pés
De Embraiagem
Por entre o fumo desta cidade
Eu vou seguindo de Embraiagem
Obedecendo aos sinais do tempo
Vou evitando a derrapagem
Cruzando as ruas desta cidade
Eu vou expondo toda a bagagem
Vou escondendo o meu lamento
Na ansiedade duma paragem
Eu faço parte desta cidade
Que atropela o mais distraído
Que vai dançando ao som dos escapes
A melodia feita ruído
Pára, tens que parar
Para fazer sentido
Saber em que sentido
Cruzando ruas e avenidas
Sempre em constante movimento
Cruza-se gente e almas perdidas
No alcatrão e no cimento
É o passo lestro que se faz tarde
É o volante e o motor
Olhar somente para a frente
Ou no espelho retrovisor
Eu faço parte desta cidade
que atropela o mais distraído
Que vai dançando ao som dos escapes
A melodia feita ruído
Pára, tens que parar
Para fazer sentido Saber em que sentido

Descando do Guerreiro(Amanhã é Sabado)
Sexta-feira o guerreiro cansado e deprimido
Desejou o tempo inteiro o descanso merecido
Foi prós lados da Ribeira, na Rua dos Mercadores
Onde afogou a noite inteira, em cerveja as suas dores
Alonga-se a conversa, a garganta seca aleija
Faz contas ao orçamento, manda vir outra cerveja
Amanhã é Sábado, valha-me ao menos isso
A ressaca não perdoa, mas eu não tenho compromisso
Aos olhos já cansados dos fumos orientais
Vão chegando lentamente os engates triviais
E o cigarro permanente traz à memória um momento
De velhos dias de gloria que jazem no pensamento
O corpo reclama o regresso do guerreiro
Aos lençóis da sua cama vai, dormir o dia inteiro
Talvez possa lá voltar na próxima sexta – feira
Se o orçamento deixar, hade haver uma maneira
Amanhã é Sábado valha-me ao menos isso
A ressaca não perdoa mas eu não tenho compromisso
Ele sente-se uma peça do sistema industrial Diz que a sexta na Ribeira é um direito Universal
Após tanto Caminhar (Portugal ,minha terra.)
Andei por terras diversas
Corri portas e travessas
Campos, montes, passei rios
Vi palácios sumptuosos
Casas de vultos famosos
E barracas de gentios
Andei, andei sem parança
Sempre na mira, na esperança
De conhecer Portugal
Andei pelo Douro sozinho
Cheguei ás partes do Minho
Onde o verde é divinal
Após tanto caminhar
Eu não vos posso ocultar
O que somei em geral
Há muita nação airosa
Mas para mim a mais formosa
Ainda é Portugal
Caminhei por Trás – os Montes
Passei pontões, dobrei pontes
Vi cenários de mil cores
Fui ás beiras sem cansaço
Vi apanhar o sargaço
Na Apúlia dos pescadores
E após tanto caminhar
Eu não vos posso ocultar
O que somei em geral
Há muita nação airosa
Mas para mim a mais formosaAinda é Portugal
Bom Dia
Hoje, eu tenho asas nos pés, só me apetece dançar
Tanta cara bonita, tantas mãos a acenar
Eu sou um balão colorido e mágico
Bom dia
Ontem já passou, amanhã pose ser bom
Mas hoje é o melhor dia que há, eu nem preciso de fé
Eu felizmente não preciso se nada
Bom dia
Hoje eu sou um homem contente ao serviço do amor
Sou o próprio sonho e desconheço a dor
Eu sou o vagabundo mais feliz que existe
Bom dia
Eu hoje sou mais forte que os Deuses
Mais certeiro que a morte
Estou por cima da queda, mais seguro que a sorte
Eu sou o Universo inteiro a sorrir
Bom dia
Tributo a JORGE PALMA
Obrigado!!